O Anarquista como Fora da Lei
Autor: Apio Ludd
Data: 28 de Outubro de 2013
Fonte: c4ss
Quando digo que sou anarquista, simplesmente quero dizer que, na medida em que tenho poder, me recuso a permitir que qualquer pessoa ou coisa me domine. Em outras palavras, recuso-me a aceitar o poder de qualquer autoridade, instituição, governante existente ou potencial sobre mim. Por isso, também me recuso a escolher entre possíveis governantes ou regras. Fazer isso seria expressar uma disposição de abdicar do meu poder de criar minha vida, uma disposição de entregar esse poder a outros, e não estou disposto a fazer isso. Também não estou disposto a, mesmo temporariamente, transferir meu poder a qualquer autoridade ou instituição para agir em meu lugar. É por isso que não recorrerei a policiais ou tribunais para lidar com qualquer problema ou conflito em minha vida. Na medida de meu poder, evito lidar com essas instituições completamente.
Quando digo que sou fora da lei, não quero dizer que sou algum grande e heroico bandido (tal afirmação faria meus amigos rirem até cair). Quero dizer simplesmente que, na medida de meu poder, vivo alegalmente, ou seja, sem consideração pela lei. Não deixo que a lei determine minhas escolhas e ações. Em vez disso, uso todos os meus poderes – minhas habilidades, minhas ferramentas, minha astúcia, meus relacionamentos – para criar minha vida em meus próprios termos, sem ser pego. Essa alegalidade reforça minha recusa de lidar voluntariamente com policiais ou tribunais.
Falo de alegalidade e não de ilegalismo, não porque eu seja contra o ilegalismo, mas porque quero ser preciso. Originalmente, o termo “ilegalismo” tinha um significado específico. Um ilegalista era um anarquista que escolhia meios ilegais como forma de sustento, em vez de mendigar ou aceitar um emprego. Assim, “ilegalismo” referia-se especificamente a roubo, furto, falsificação, etc. [1], e não à propaganda pelo ato, atentados e semelhantes, nem a coisas como a recusa ao serviço militar, pagamento de impostos, etc. Os debates originais sobre ilegalismo, portanto, não eram sobre se anarquistas deveriam realizar ações ilegais – assumia-se que todos os anarquistas o faziam – mas se a reapropriação individual era uma tática legítima. Para um egoísta, isso nem mesmo é uma questão; a única pergunta é: “Com o que posso me safar?”
De qualquer forma, anarquistas, e todos os indivíduos livres e insubmissos, inevitavelmente quebrarão leis. Quando existem leis, minha escolha de viver nos meus próprios termos me tornará um fora da lei, porque ignorarei a lei, exceto como um obstáculo a ser evitado.
Uma pessoa poderia considerar essas recusas – não votar, não recorrer à polícia, não usar os tribunais, etc. – como um conjunto de princípios, uma ética, que escolho seguir. Mas não permito que se tornem um poder sobre mim, porque quero que permaneçam meus princípios, minha ética. Não os estabeleço como regras a seguir, mas os escolho a cada momento, porque os considero as ferramentas mais adequadas para criar minha vida como eu a vejo. Quero viver minha vida nos meus próprios termos imediatamente, aqui e agora, e não adiá-la para um futuro que é sempre uma ficção. E toda vez que entrego meu poder a outro, perco minha vida aqui e agora, o que, dito de forma mais simples, significa: perco minha vida. Assim, para mim, esse chamado conjunto de princípios, essa chamada ética, é simplesmente minha prática de fazer minha vida ser minha, aqui e agora.
(Este é o terceiro trecho de um texto maior intitulado “Ninguém Deve Nada a Ninguém! O Egoísmo Amoral como uma Ética Anarquista Fora da Lei”)
[1] Essa prática também é chamada de reprise individuelle – reapropriação individual.